Devemos recordar aqui que em meados de 2021 o Expresso escreveu um recado dado pelo senhor presidente da República que vaticinava o fim do actual governo para meados de 2023.
Apesar de ter sido, desde 2015, o principal suporte de António Costa junto da opinião pública, sempre desvalorizando as tensões que foram surgindo, – e nisso contribuindo decisivamente para a liquidação política da liderança de Rui Rio – Marcelo de Sousa encarrega-se, aqui e ali, de deixar farpas que testam os nervos de aço do Largo do Rato que cala sempre as reacções em nome da paz institucional mas sobretudo para garantir a estabilidade do Governo.
Se dúvidas houvesse, bastaria recordar a intervenção do presidente na Trofa quando se dirigiu à ministra da Coesão, num tom de desafio tal que nos leva a perguntar onde começa e acaba o poder do professor Marcelo de Sousa e qual o respeito devido entre órgãos de poder.
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Não é inocente e tem mensagem. Trata-se de mostrar “o homem do poder” sentado numa maioria absoluta que se pretende desenhar como exagerada. Jornalisticamente é uma “peça” de valor próprio, faltando saber se nos próximos meses a cadeira mostra sinais de desestabilização perante os riscos da “inflação”, a “taxa de juro” e o cumprimento das metas do “cumprimento do PPR” – instrumento de análise e de verificação a usar pelo senhor presidente da República.
2023 será duro. Cristina Lagarde, presidente do BCE, disse-o na última semana e poderemos chegar a uma taxa de juro média de 4,5% que a todos nos vai abalar, mas sobretudo à economia nacional que nessa altura entra na fronteira da eventual necessidade de pedir “ajuda externa” – o diabo da troika.
E é aqui que a confiança do senhor primeiro-ministro pode ser abalada para nosso prejuízo e pavor, e não pelas narrativas circunstanciais de quem quer condicionar o poder.
Perante as nuvens carregadas e incertas da economia – nacional e internacional – convém algum recato comunicacional aos titulares do poder. Gostam pouco de falar claro, preferem a verdade circunstancial e conveniente, mas podem ser surpreendidos com o grito dos pobres a quem nunca ninguém ganhou a guerra.
Por Arnaldo Meireles
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O excesso na política