….No Outono de 1852, os “progressistas”, apesar da incipiente consciencialização partidária, cindem-se em dois grupos, que se organizarão em partidos – o partido progressista dissidente, ou histórico, e o partido progressista regenerador. Constitui-se, então, o sistema bipartidário.
Ambos os partidos progressistas recebem no seu seio membros cartistas, embora se mantenha a facção cartista autónoma até à década de 60 e em manifesta oposição à política ministerial dos regeneradores. Neste confronto a estratégica aliança dos cartistas dissidentes, ou históricos, era usual e logo se manifesta na discordância relativa ao Acto Adicional de 1852.
Os regeneradores (…) estão empenhados particularmente numa política de reformas materiais, salvaguardada porém a plataforma constitucional; os dissidentes, ou históricos (…) opõem-se à política reformista constitucional.
Integrados num “partido progressista dissidente”, manterão uma atitude dissonante da acção ministerial da Regeneração. Contraposição que assume particular ênfase nos debates de imprensa travados entre A Revolução de Setembro, porta-voz dos regeneradores, que manifesta apoio ao regime liberal e à política de fomento encetada pelo ministério, e O Português, órgão dos dissidentes, ou históricos, mediada pelo periódico O Eco Popular, impresso no Porto mas defensor do desenvolvimento material do País.
Confrontos e dissidências
No plano político, acentuam-se clivagens notórias entre regeneradores e históricos (…) Os progressistas dissidentes, ou históricos, sobretudo o núcleo que propaga as suas opiniões através de O Português, divulgam princípios mais radicais; sufrágio universal e não censitário, cortes constituintes e selecção dos administradores dos concelhos por eleição popular. Adeptos de uma política descentralizadora, de que Alexandre Herculano é arauto, por exemplo, nos artigos que escreve em 1853 em O Português, os históricos defendem uma estrutura política assente na organização municipalista.
Os regeneradores entendem, pelo contrário, que a centralização política e administrativa é imprescindível para atingir a riqueza, a prosperidade, o desenvolvimento industrial e ainda como sustentáculo do próprio equilíbrio e coesão nacionais. É certo, no entanto, que os progressistas dissidentes, como os que veiculam as suas doutrinas e princípios através do jornal portuense O Eco Popular, se exprimem a favor da prioridade de uma política de fomento.
(…) No intuito de manter uma coligação entre os progressistas, o redactor de A Revolução de Setembro apela em 1858 para a profícua e eficiente conjugação de forças para o desenvolvimento material do País.
TEXTO: Maria Manuela Tavares Ribeiro, in História de Portugal, direcção de José Matoso, página 121
FOTO D. Maria II de Autarcas.Monarquicos